sábado, 22 de setembro de 2012

Uma homenagem a Rose


 

Seres humanos são como plantas,necessitam de agua ,luz espaço,harmonia.Uma semente de amor dentro do ser pode fazer milagres.         Melissa L.

 

Mais uma vez as nuvens lembram-me o lago inatingível,suas águas e as gotas reluzentes parecendo pequenos cristais ao brincarmos em suas águas.Eu e Quithu…Será que o destino esta conspirando contra mim? Ontem experimentei a sensação de inebriante satisfação ao suspeitar que mamãe me deixaria muito cedo, as cinco da manhã, horário que desperto, ao vê-la também desperta acreditei que estava a alguns passos de ir a igreja, a decepção chegara em seguida quando pediu minha ajuda para iniciar um assado para a sexta feira que seria a visita do padre.

Cancelei meu trabalho na ordenha e fiquei a ouvir toda a manhã seus sermões e lamurias, com atenção afinal de contas surgem algumas perguntas, e o esperar de uma opinião, mesmo que interrompida ao som de uma primeira palavra minha. Depois de passado este momento de enfadonha convivência auxilio Jonh a alimentar os animais, rego todas as plantas ao redor da casa e ao chegar da tardezinha enquanto laboriosamente dobro as roupas secas recolhidas no dia anterior, o suor escorre me sobre o colo em gotas salgadas e densas, não sobrou me tempo de sequer ajeita-las,tento em mente ainda imaginar em vão uma maneira de escapar de mamãe para nadar nestes dias tão quentes.O que acontecera raras duas vezes.

Sinto falta da india, ela preenche espaços vazios dentro de meu coração tão machucado por coisas sem importância que me ferem tanto, talvez as mais sutis formas de maldade sejam as que mais desgastam os sentimentos de uma pessoa,esqueço me muitas ocasiões que tenho de contar apenas comigo,o final do dia chega e a estas horas sinto a necessidade dormir ao menos duas horas,por despertar me muito cedo.

Fomos a um sarau neste fim de semana e os acordes das musicas fazem parte da minha mente neste momento, deito me em minha cama, o sol dentro da vermelhidão de seu fim, o cansaço de mais um dia imperceptível dentro de minha essência, as pessoas mal educadas, carrancudas,destilando venenos por toda parte,não tive tempo para ver as crianças e existem dias que vemos tudo escuro e adverso a alegria, não existe cumplicidade, irmandade, amor incondicional, apenas a burguesia, a escória. Nas crianças eu vejo a alegria e interiormente sempre estou certa de que gostam de mim, me amam incondicionalmente, mas sei que jamais sairão de meu ventre, fui condenada ao nascer a pagar um preço por viver, por respirar, por sentir o natural fluir em meu espírito da Grande Mãe Natureza.

O sono me surpreende, em meio as brumas de meu inconsciente vejo um homem velho que  transformasse ao aproximar, seu semblante agora jovial me sorri, ele me beija muito devagar que por instantes posso sentir seus lábios fisicamente, é um ser tão sutil, mágico e especial,que lágrimas rolam por meu rosto e a música não cessa ao contrário tornasse mais perfeita. Estamos em uma sala tão iluminada feita de cristais em um recanto de minha personalidade que estava esquecido, que fora massacrada por fatos inexistentes e que me preocupavam em demasia, tomando me o próprio sangue. Visitas constantes ao médico de nossa família, idas e vindas do confessionário, e este homem diante a mim, sem dizer nenhuma palavra, observa, parecendo um anjo, transmitindo apenas sua luz, sua tranquilidade, sua singela passagem por minha vida.

Por que tudo era tão mais puro antes? Possuía mais força, meu mundo interior constituía-se de barreiras intransponíveis, inatingíveis, apenas a natureza foi concedido espaço, aos pássaros, os animais, as aves de rapina, companheiras, e sempre, sempre o natural instinto de todos eles nos mostrando o exemplo a seguir, de bravura e de amor incondicional inexistente nos seres humanos.

Deixo este ser e continuo em meu caminho claro e límpido, em meu sono,precioso sono,curto,sofrido e tão precioso ao restabelecer de meu ser.Quando passo todo o dia em claro,fico sensível demais,perco minhas defesas e por qualquer palavra rude meus olhos lacrimejam,meu coração aperta e perco as estribeiras,quando me deito não consigo ler,o cansaço toma proporções que não sei administrar.Jonh por vezes olha me com o canto dos olhos em meio ao trabalho duro com o carregamento,a ordenha,a fabricação do queijo e do pão e admirasse.Meu dia foi um dos piores,fui consumida pela derrota de ser um ser humano aprisionado,as conversas de minha mãe feriam meus ouvidos.Comentários sobre a vida alheia,julgando ,sentenciando.A completa certeza nas palavras,seu olhar vil quando observava perfeição em minhas tarefas e total repreensão em qualquer deslize. Um tapa em minha cabeça porque deixara cair um pedaço de carne no chão e o silencio. Nada disse, nada direi, jamais.

   Mas me houvera dado o melhor de todos os dons o de contemplar minha própria beleza e essência, uma mulher que não ama a si mesma não merece amor de ninguém sequer de Deus.Tranco as portas do quarto e madrugada a dentro principalmente em noites quentes como as que fazem nestes dias ,nua em meu quarto,observo cada volta linha e expressão corporal de minha pele inerte,virgem intocada.Um rossar das mãos em meio a labuta diária,um olhar ardente, azul como o céu, claro como as nuvens, a corar me a face, e nada mais, um corpo jovem, vital, pulsante ,sem utilidade,sem porque…Meus seios,tão brancos ,tão volumosos,desperta olhares furiosos dos homens que trabalham com meu pai, e qualquer desejo de aproximação por eles, foi pago com o afastamento da fazenda, foram avisados afinal que sou uma mulher infectada, que devem manter a distancia e o medo. Minhas pernas, delgadas, torneadas, também brancas chegando a transparência e a exposição de minhas veias, a magreza, deixa a mostra as costelas, tenho medo de ser pega por eles, me veem como uma louca,e com uma visão dessas me internariam em um hospício.

   O ciúmes de meu pai vem de uma razão misteriosa que desconheço, algo esta oculto em seu espírito, vejo no modo como me trata, com repulsa, jamais me toca, jamais se aproxima, me vê como um objeto a mais na casa.

Quantas paginas mais…até não restar mais o soletrar de qualquer letra em meus diários, escondidos, empoeirados, inexistentes por muito tempo.

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