Seres humanos são
como plantas,necessitam de agua ,luz espaço,harmonia.Uma semente de amor dentro
do ser pode fazer milagres.
Melissa L.
Mais uma vez as nuvens lembram-me o lago inatingível,suas águas e as
gotas reluzentes parecendo pequenos cristais ao brincarmos em suas águas.Eu e
Quithu…Será que o destino esta conspirando contra mim? Ontem experimentei a
sensação de inebriante satisfação ao suspeitar que mamãe me deixaria muito
cedo, as cinco da manhã, horário que desperto, ao vê-la também desperta
acreditei que estava a alguns passos de ir a igreja, a decepção chegara em
seguida quando pediu minha ajuda para iniciar um assado para a sexta feira que
seria a visita do padre.
Cancelei meu trabalho na ordenha e fiquei a ouvir toda a manhã seus
sermões e lamurias, com atenção afinal de contas surgem algumas perguntas, e o
esperar de uma opinião, mesmo que interrompida ao som de uma primeira palavra
minha. Depois de passado este momento de enfadonha convivência auxilio Jonh a
alimentar os animais, rego todas as plantas ao redor da casa e ao chegar da
tardezinha enquanto laboriosamente dobro as roupas secas recolhidas no dia
anterior, o suor escorre me sobre o colo em gotas salgadas e densas, não sobrou
me tempo de sequer ajeita-las,tento em mente ainda imaginar em vão uma maneira
de escapar de mamãe para nadar nestes dias tão quentes.O que acontecera raras
duas vezes.
Sinto falta da india, ela preenche espaços vazios dentro de meu coração tão
machucado por coisas sem importância que me ferem tanto, talvez as mais sutis
formas de maldade sejam as que mais desgastam os sentimentos de uma
pessoa,esqueço me muitas ocasiões que tenho de contar apenas comigo,o final do
dia chega e a estas horas sinto a necessidade dormir ao menos duas horas,por
despertar me muito cedo.
Fomos a um sarau neste fim de semana e os acordes das musicas fazem
parte da minha mente neste momento, deito me em minha cama, o sol dentro da
vermelhidão de seu fim, o cansaço de mais um dia imperceptível dentro de minha
essência, as pessoas mal educadas, carrancudas,destilando venenos por toda
parte,não tive tempo para ver as crianças e existem dias que vemos tudo escuro
e adverso a alegria, não existe cumplicidade, irmandade, amor incondicional, apenas
a burguesia, a escória. Nas crianças eu vejo a alegria e interiormente sempre
estou certa de que gostam de mim, me amam incondicionalmente, mas sei que
jamais sairão de meu ventre, fui condenada ao nascer a pagar um preço por
viver, por respirar, por sentir o natural fluir em meu espírito da Grande Mãe
Natureza.
O sono me surpreende, em meio as brumas de meu inconsciente vejo um
homem velho que transformasse ao
aproximar, seu semblante agora jovial me sorri, ele me beija muito devagar que
por instantes posso sentir seus lábios fisicamente, é um ser tão sutil, mágico
e especial,que lágrimas rolam por meu rosto e a música não cessa ao contrário
tornasse mais perfeita. Estamos em uma sala tão iluminada feita de cristais em
um recanto de minha personalidade que estava esquecido, que fora massacrada por
fatos inexistentes e que me preocupavam em demasia, tomando me o próprio
sangue. Visitas constantes ao médico de nossa família, idas e vindas do confessionário,
e este homem diante a mim, sem dizer nenhuma palavra, observa, parecendo um
anjo, transmitindo apenas sua luz, sua tranquilidade, sua singela passagem por
minha vida.
Por que tudo era tão mais puro antes? Possuía mais força, meu mundo
interior constituía-se de barreiras intransponíveis, inatingíveis, apenas a
natureza foi concedido espaço, aos pássaros, os animais, as aves de rapina, companheiras,
e sempre, sempre o natural instinto de todos eles nos mostrando o exemplo a
seguir, de bravura e de amor incondicional inexistente nos seres humanos.
Deixo este ser e continuo em meu caminho claro e límpido, em meu
sono,precioso sono,curto,sofrido e tão precioso ao restabelecer de meu
ser.Quando passo todo o dia em claro,fico sensível demais,perco minhas defesas
e por qualquer palavra rude meus olhos lacrimejam,meu coração aperta e perco as
estribeiras,quando me deito não consigo ler,o cansaço toma proporções que não
sei administrar.Jonh por vezes olha me com o canto dos olhos em meio ao
trabalho duro com o carregamento,a ordenha,a fabricação do queijo e do pão e
admirasse.Meu dia foi um dos piores,fui consumida pela derrota de ser um ser
humano aprisionado,as conversas de minha mãe feriam meus ouvidos.Comentários
sobre a vida alheia,julgando ,sentenciando.A completa certeza nas palavras,seu
olhar vil quando observava perfeição em minhas tarefas e total repreensão em
qualquer deslize. Um tapa em minha cabeça porque deixara cair um pedaço de
carne no chão e o silencio. Nada disse, nada direi, jamais.
Mas me houvera dado o melhor de todos os
dons o de contemplar minha própria beleza e essência, uma mulher que não ama a
si mesma não merece amor de ninguém sequer de Deus.Tranco as portas do quarto e
madrugada a dentro principalmente em noites quentes como as que fazem nestes
dias ,nua em meu quarto,observo cada volta linha e expressão corporal de minha
pele inerte,virgem intocada.Um rossar das mãos em meio a labuta diária,um olhar
ardente, azul como o céu, claro como as nuvens, a corar me a face, e nada mais,
um corpo jovem, vital, pulsante ,sem utilidade,sem porque…Meus seios,tão
brancos ,tão volumosos,desperta olhares furiosos dos homens que trabalham com
meu pai, e qualquer desejo de aproximação por eles, foi pago com o afastamento
da fazenda, foram avisados afinal que sou uma mulher infectada, que devem
manter a distancia e o medo. Minhas pernas, delgadas, torneadas, também brancas
chegando a transparência e a exposição de minhas veias, a magreza, deixa a
mostra as costelas, tenho medo de ser pega por eles, me veem como uma louca,e
com uma visão dessas me internariam em um hospício.
O ciúmes de meu pai vem de uma razão
misteriosa que desconheço, algo esta oculto em seu espírito, vejo no modo como
me trata, com repulsa, jamais me toca, jamais se aproxima, me vê como um objeto
a mais na casa.
Quantas paginas mais…até não restar mais o soletrar de qualquer letra em
meus diários, escondidos, empoeirados, inexistentes por muito tempo.
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